segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010



AUTOMEDICAÇÃO



Na página sobre Tabagismo (ver MENU ao lado) dissemos o seguinte: "Iniciamos esse item com uma ótima notícia - No dia 27 de dezembro de 2000, o Presidente da República sancionou a lei que restringe a propaganda de cigarros (bem como de bebidas alcoólicas, medicamentos e defensivos agrícolas)."

Hoje, dia 10 de Dezembro de 2001, podemos dizer que, de fato, as propagandas de cigarro foram abolidas dos principais meios de informação. Entretanto, o que aconteceu com a propaganda dos medicamentos chega a ser inacreditável (que "lobby"!!!). Ao invés de proibir a propaganda, como aconteceu com o cigarro, o governo fez uma exigência às indústrias que incentiva a automedicação. Ao exigir que os laboratórios farmacêuticos exponham no final da propaganda o anúncio:

Ao persistirem os sintomas,
o médico deverá ser consultado.


Entendemos com isso que: "Caso surja o sintoma, apresentado no anúncio, deve o indivíduo, primeiramente, tomar o medicamento indicado e, caso não melhore ou não fique curado, deverá consultar o médico."

É fato conhecido que muitas pessoas praticam a automedicação; orientadas pelo balconista da farmácia, por qualquer outra pessoa leiga em medicina ou estimuladas pela mídia. Há uma tendência natural para valorizar-se a ação de um medicamento contra determinado sintoma. Na maioria das vezes, em que há automedicação, o indivíduo se preocupa em saber qual remédio é bom para determinado sintoma mas, sem o interesse de comprovar a veracidade.
Na realidade a medicação administrada desse modo está fadada a falhar ou, até mesmo, a comprometer a saúde. Isso porque, em medicina, o ponto de partida não é a escolha do medicamento e sim a precisão do diagnostico da doença.
Assim, quando se diz, "esse remédio é bom para isso ou aquilo" está sendo deixado de lado o mais importante - o diagnóstico. Partindo de um diagnóstico preciso é que o médico tem condições de escolher o tratamento adequado.
O tratamento mais efetivo é aquele que tem a possibilidade de combater a causa da doença. Se conhecemos a doença, identificamos sua causa e se há uma medicação que a combata, podemos alcançar a cura. Não quer dizer que não possamos tratar um paciente quando não identificamos a causa ou quando não há medicação especifica para combate-la. Nesse caso, o médico pode tratar os sintomas para aliviar o sofrimento do doente.
Um bom exemplo está na gripe que é produzida por vírus e não há qualquer medicação que o extermine. O que acontece é que as defesas do próprio organismo vão elimina-lo e, em poucos dias, os sintomas vão desaparecer. Nesse caso, usaremos medicamentos para combater o sintoma (ou sintomas) que está causando sofrimento ao paciente.
Desse modo, é fácil concluir que não há qualquer medicamento que possa "cortar a gripe", como é apregoado com freqüência, já que não é possível combater a causa.

Com o exposto, fica claro que as pessoas acreditam facilmente em uma informação e não mostram qualquer interesse para comprovar a sua veracidade.
Entretanto é importante ressaltar que existe forte tendência das pessoas a crenças sem fundamentos, e é precisamente isso que faz com que, sem qualquer esforço para tentar compreender as razões dos acontecimentos, acreditam facilmente nos "bons resultados" obtidos com medicamentos aconselhados por leigos.
Murray Stein em seu livro Jung O Mapa da Alma da Editora Cultrix, diz: "Pensamos em termos de causa-e-efeito porque somos humanos, não porque vivemos numa era científica. Em todos os períodos em todas as culturas as pessoas pensam causalmente, mesmo que atribuam aos eventos causas que os nossos conhecimentos científicos contradizem."
(Maiores detalhes sobre pensamentos na página Introdução (ver MENU ao lado).

Conhecimentos científicos.
Sempre que possível, a medicina baseia suas crenças no conhecimento científico. Desse modo, ao contrário do leigo que não procura certificar-se da veracidade da informação, a medicina procura a verdade (ou a provável verdade) nas pesquisas científicas.
As pesquisas científicas são constituídas das etapas apresentadas no quadro abaixo.

1 - Hipótese:
Para iniciar-se uma pesquisa científica, particularmente sobre a ação de um medicamento, partimos de uma hipótese; ou seja, supomos que tal medicamento combata a causa ou os sintomas da doença. Passamos, então, a submeter essa suposição a uma apreciação.

2 - Método:
Para sabermos se a hipótese formulada é verdadeira, procuramos usar um método, ou seja, um caminho a ser seguido para investigarmos a sua veracidade. Há diversos métodos para esse fim, mas não nos deteremos nesse ponto. Entretanto, salientamos que o número de pacientes empregado na pesquisa é de grande importância. Vejam aí que as pessoas leigas satisfazem-se, muitas vezes, com o resultado de um único caso, o que não tem o menor significado.

3 - Avaliação do resultado:
Aplicado o método ideal à pesquisa e considerando o número satisfatório de pacientes estudados, partimos para a avaliação do resultado. Para isso, o pesquisador lança mão de cálculos estatísticos com a finalidade de saber se o resultado é significante.
Por outro lado, mesmo que a pesquisa comprove o efeito do medicamento testado, novas pesquisas deverão ser efetuadas para comprovação.

Nem toda crença médica baseia-se em evidencia científica, já que em muitas situações ainda não se consegue a comprovação por meio das pesquisas científicas. Em um grande número de crenças, a base é, puramente, empírica. Isso quer dizer que os conhecimentos são adquiridos pela experiência adquirida sem o emprego de métodos.
No caso do empirismo, o conhecimento está ainda na fase da hipótese.

Vamos agora fornecer mais exemplo de automedicação, além do exemplo da gripe que já foi descrito acima, comentando os erros cometidos nessas eventualidades:

Medicamentos para sofrimento do fígado.
É muito comum que as pessoas pensem que estão com problemas no fígado quando apresentam alguns sintomas, como por exemplo: náuseas, desconforto ou dor no epigástrio (região acima do umbigo), mal estar, tonteira. Isso é mais freqüente após ingestão de bebida alcoólica.
Na verdade, isso acontece porque no passado, quando ainda não havia estudo nesse sentido, os médicos acreditavam que o fígado era comprometido pela bebida alcoólica. Havia uma razão para essa crença - é sabido que a bebida alcoólica produz depósito de gordura no fígado, mas somente após muito tempo de ingestão freqüente. Mas mesmo assim, esse depósito não é responsável por qualquer sintoma; é claro, quando não há lesões sérias do órgão.
Então, a que atribuir os sintomas referidos após a ingestão de bebidas alcoólicas?
À ação do álcool, principalmente quando ingerido em grande quantidade, no sistema nervoso e como irritante do aparelho digestivo. Desse modo, vamos parar de botar a culpa no fígado!
O tratamento será baseado em dietas leves, particularmente em alimentos líquidos e pastosos que não contenham gordura e proteína, além do medicamento para combater cada sintoma que cause sofrimento ao paciente.
Devido a essa crença infundada de sofrimento do fígado, alguns laboratórios, desonestos, lançaram "remédios para o fígado". É fácil constatar o elevado número de indivíduos que fazem uso desses medicamentos, e colaboram para o sucesso financeiro das indústrias farmacêuticas.

Brevemente estaremos fornecendo outros exemplos.


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