segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010




INTRODUÇÃO
ACREDITE SE ´PUDER


Desejando orientar as pessoas que fazem uso de medicamentos por indicação de leigos em medicina, resolvemos elaborar essa Home Page.
Sabemos que a aceitação de conselhos não se dá automaticamente e que está sujeita à disposição da mente humana. Por esta razão, não é de estranhar que, muitas vezes, uma pessoa aceita, mais facilmente, o conselho de um leigo do que de um médico.
Nas linhas que se seguem, vamos fornecer alguns dados para esclarecer o nosso modo de pensar.

É pensamento corrente que a consciência é a única responsável por todas as nossas decisões. Essa idéia já vem se arrastando por muitos séculos.
Will Durant em seu livro A História da Filosofia, comentando os pensamentos de Schopenhauer (filósofo que nasceu em 1793), diz: "Quase sem exceção, os filósofos colocaram a essência da mente no pensamento e na consciência; o homem era o animal consciente, o animal rationale. (...)Sob o intelecto consciente está a vontade cônscia ou inconsciente, uma força vital esforçada, persistente, uma atividade espontânea, uma vontade de desejo imperioso. Às vezes, pode parecer que o intelecto dirija a vontade, mas só como um guia conduz o seu mestre;(...). (...)ninguém jamais convenceu alguém usando a lógica; e até mesmo os lógicos só a usam como fonte de renda. Para convencer um homem, é preciso apelar para o seu interesse pessoal, seus desejos, sua vontade."
Daí, já podemos sentir que existe algo (inconsciente) que interfere nas nossas decisões.

Corroborando essa idéia, Damásio diz em seu livro O Mistério da Consciência que a consciência é estabelecida, no início da vida, pelo genoma (transmissão hereditária) e sofre influências da cultura adquirida ao longo da vida, e que quando falamos em moldar uma pessoa pela educação e pela cultura, referimo-nos às contribuições combinadas:

1. Traços e inclinações geneticamente transmitidos.
2. Inclinações adquiridas no início do desenvolvimento, sob a dupla influência dos genes e do meio.
3. Episódios pessoais únicos, vivenciados à sombra dos dois conjuntos de influências anteriores.

James Alcock, publicou um interessante artigo na Scientific Reviw of Alt Med 3(2):45-50,52.1999 onde comenta que as pessoas acreditam na medicina alternativa pelas mesmas razões que acreditam na medicina baseada em evidências (medicina ocidental ou nossa medicina clássica).
Ele tem toda razão quando diz que as pessoas acreditam no tratamento da medicina alternativa, se os resultados foram bons. E afirma que o mesmo sucede quando os pacientes são beneficiados pela medicina clássica. Eles também nada conhecem dessa medicina. Diz ainda: "No final, tudo fica reduzido a que nosso sistema de crença nos inclina a aceitar como evidência."

Quero ressaltar essa afirmação - "inclina a aceitar", pois entendemos com isso que as pessoas, de modo geral, são impulsionadas a aceitar como verdadeiro, algo dentre várias possibilidades, sem que a aceitação seja conseqüência de pura reflexão.

Para reforçar essa idéia de "impulsão para aceitação de uma crença", citamos o famoso filósofo David Hume que viveu no Século XVIII e dedicou-se a esse assunto. Hume diz que a crença não depende da vontade, é condicionada pelo costume e não pode ser manipulada a gosto, e que é preciso que a natureza a desperte como faz com outros sentimentos. Diz ainda que a "crença é mais propriamente um ato sensitivo do que um aspecto cogitativo de nossa natureza".

Reforçamos esse pensamento de Hume com a hipótese de António R. Damásio, no seu livro O Erro de Descartes, sobre os marcadores somáticos que interferem nas tomadas de decisão. Esses marcadores são sensações corporais desagradáveis que surgem após obtenção de um mau resultado. Com isso, os referidos marcadores fazem convergir a atenção para os resultados negativos que poderiam ser produzidos por determinada ação. Com esse alarme, a decisão rejeita a ação que produziria o resultado negativo o que levaria à seleção de opções. Diz que a situação para uma tomada de decisão é ainda muito mais complexa. Além de possíveis falhas de racionalidade que interferem na escolha da decisão, há também a influência de impulsos biológicos como a obediência, a concordância, o desejo de preservar a auto-estima, que freqüentemente manifestam-se como emoções e sentimentos.

Complementando nossa explanação, vamos apresentar os diferentes modos de pensar que, por certo, guiarão uma pessoa na sua decisão. Queremos, no entanto, ressaltar que quando pensamos, procuramos seguir um raciocínio lógico, ou seja, obedecemos a uma seqüência coerente e regular dos elementos empregados na reflexão. Também, sempre que observamos um fato, um acontecimento, procuramos identificar a causa que os originou (relação causa e efeito).

Consideramos o pensamento em dois grupos:

1. O homem primitivo, o selvagem de nossos tempos que vivem isolados da civilização e as crianças empregaram, e empregam, um tipo de pensamento denominado mágico. Baseia-se na falta de reflexão sobre os possíveis resultados decorrentes de diversas condutas, sem a existência prévia de um julgamento dos diferentes modos de agir. A base principal da ação estaria nas várias tentativas até alcançar êxito. A essa conduta denominamos "tentativa e erro". É do tipo automático, não requer aprendizado formal, conhecimento teórico, contemplação e lógica.
Consiste em estabelecer integrações por semelhança e contiguidade. Quando dois objetos se parecem, esse tipo de pensamento, leva à suposição de que tenham propriedades em comum (integração por semelhança), e atribui influência mútua a dois objetos que estejam próximos (integração por contiguidade). Essas pessoas receiam coisas fantásticas e acham que algum fato, desconhecido por eles, pode representar uma mensagem. Podem valorizar coisas ineficazes e achar que têm poderes mágicos (superstição).
É por todas essas razões que esse tipo de pensamento é conhecido como "pensamento mágico".

Muitas pessoas apresentam resíduos desse pensamento e por isso apelam para esse sentimento com a finalidade de guia-los nas decisões e determinar suas verdades. É importante que seja salientado que apesar desse tipo de pensamento ser encontrado em indivíduos de baixo nível cultural, ele também é visto em pessoas instruídas e cultas.

É fácil perceber nas referências acima a tendência para explicar a relação entre causa e efeito. Quanto à referência à falta de lógica, é preciso entender que aqui significa que não existe uma coerência baseada em evidências como no grupo que se segue. Para diferenciar esse tipo de lógica com o do tipo seguinte, ele é denominado de lógica do primitivo.

2. O outro tipo de pensamento é denominado "pensamento lógico". Destacou-se há pouco mais de dois milênios graças às estruturas especiais do cérebro humano e às disposições para esse tipo de pensamento. Assim, podemos desenvolver as reflexões graças à capacidade de julgar e de raciocinar. Aqui o raciocínio lógico é de extrema importância e contamos com uma ferramenta de grande valor para o conhecimento da verdade, surgida nos últimos séculos, que é a pesquisa científica. Mesmo sendo a atividade científica de valor , temos que ter em mente que erros de procedimento e de avaliação de resultados podem nos levar a falsas conclusões. Não nos esqueçamos que a verdade mostrada pela pesquisa científica é, também, provisória. Por esta razão, não é de estranhar que após muito tempo uma "verdade científica" possa ser derrubada por outra pesquisa.

Considerando tudo o que foi dito, podemos ressaltar os fatores que influenciam nas decisões:
a) Por trás de uma consciência que "decide" há um variado arsenal de fatores que não são encontrados na instância da consciência (estão, pois, no inconsciente) como as emoções e os sentimentos.
b) A reflexão pura, mesmo com o auxílio da lógica, de juízo cuidadoso e de conhecimentos profundos, não é suficiente para convencer alguém. As pessoas possuem disposições que as dirigem para determinadas decisões e para determinadas crenças.
c) Podemos utilizar uma metáfora interessante para dar idéia do poder de decisão da consciência - A consciência decide como um homem que afirma que na casa dele é ele quem manda; ele obedece à esposa porque quer!

Com o exposto, entendemos que os fatores externos que possam influenciar a mente com as suas diversas disposições, vão encontrar um campo fértil para a ação.

Citamos a seguir os diversos fatores que podem levar o indivíduo a desenvolver suas crenças:

1) A experiência direta - ao tomar um medicamento para um determinado sintoma, o indivíduo acreditará, caso o sintoma desapareça, que foi o medicamento que levou ao bom resultado, mesmo que o desaparecimento do sintoma tenha ocorrido independentemente da ação do medicamento.

2) Ouvindo outras pessoas - uma das influências mais comuns é o conselho dos leigos em medicina como parentes, conhecidos, balconistas de farmácia, etc. Basta que se ouça que uma pessoa teve o mesmo problema e se curou com determinado medicamento ou tratamento, para que surja a crença nessa possibilidade.

3) Propagandas - a todo momento somos bombardeados pela mídia por propagandas de medicamentos, ou de formas de tratamentos, para diversos males. Muitas vezes vemos artistas ou desportistas famosos afirmarem com ênfase que determinado produto é o que conduz ao melhor resultado.

4) Notícias fornecidas pela mídia - hoje em dia com a facilidade de comunicação, recebemos, a todo momento, notícias dos resultados mais recentes das pesquisas em todo o mundo. Muitas vezes essas notícias são revestidas de sensacionalismo ou não são corretas e conduzem a falsas interpretações.

5) Curas milagrosas - é fácil encontrar relatos de curas promovidas por curandeiros ou pela medicina alternativa que influenciam, com facilidade, muitas pessoas.

Para colaborar com o surgimento da crença induzida pelos fatores acima citados, contamos com a atuação negativa da descrença nas autoridades médicas. Parte dessa descrença é devida às notícias a respeito do péssimo atendimento nos serviços médicos e às citações de erros médicos, e parte aos insucessos do tratamento pela medicina convencional.

Com o exposto, podemos concluir que a crença depende de uma disposição da mente humana, ou seja, é um tipo de programação aberta sujeita a modificações. Essas modificações são produzidas pelo aprendizado adquirido ao longo da vida (em especial com interferência dos fatores relatados acima) e nem sempre um aconselhamento com bases lógicas é suficiente para remover as crenças incorretas.

Isso quer dizer que mesmo sendo difícil remover crenças erradas de determinadas pessoas, outras podem ter suas crenças corrigidas.

Por esta razão, são de valor as campanhas esclarecedoras que podem conduzir à correção de idéias erradas sobre determinados assuntos, desde que o indivíduo possua dispositivos para essa aceitação. Também os conselhos podem ser bem-vindos quando a receptividade for propícia.

É tudo isso que nos possibilita dizer - "ACREDITE SE PUDER"

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